Então é Natal, e o que você fez?

    

    Passado. Futuro. Ansiedade. Expectativa. Orgulho. Arrependimento. Dezembro desempenha um papel único, mas especial, na jornada que constrói um ano, período em que sua passagem, em uma visão mais crédula, é sinônimo de férias, de descanso, mas isso nada mais é do que mais um sinal de que, a partir da hora zero, tudo começa novamente, as promessas, os problemas, a segunda-feira.
   
    No final de 2020 eu me encontrava, no mínimo, pessimista. Recém saído de uma relação destrutiva, recém saído de um emprego destrutivo, ainda atravessando o Brasil da pandemia, perdendo bens imateriais que eu considerava como os mais importantes que possuía, arrependimento não definia o quão grande era a dor que sentia pelas minhas escolhas, logo eu, grande presunçoso e egocêntrico que sou, ou ao menos considerava ser.

    
    Agora aqui, no final de 2021, me encontro, no mínimo, pessimista. Recém tomando pensamento crítico sobre muitos pontos, sejam eles sobre mim, sejam eles sobre meu arredor, ou até mesmo, sobre as realidades que não exatamente tem a ver comigo. É um sentimento diferente do que tinha um ano atrás, mas parecido na fadiga que o mesmo causa, porém, diferentemente da minha contraparte presunçosa do passado, desta vez, não guardo arrependimentos, pois o cálculo que faço de mim mesmo neste ano é, acima de tudo, positivo.
    Não sou do tipo de pessoa que faz promessas, afinal, é notória a minha incapacidade de manter uma rotina, de manter planos a longo prazo, de manter esforço constante, mas pela primeira vez em muito tempo, eu cresci, me senti finalmente um adulto, com responsabilidades, maturidade emocional, capacidade de entender que o certo e errado não são absolutos, mas que mesmo assim, o meu certo foi definido, e que o meu certo, é certo mesmo no fim das contas. Não me levem a mal, foi um ano difícil, e para o brasileiro, provavelmente muito mais difícil que o meu, mas eu não quero deixar passar em branco este que é, sem dúvida alguma, o magnum opus de mim mesmo, superando qualquer nível que eu tivesse estipulado para mim mesmo, mas que, por ser tamanha obra prima de mim, não vejo se repetindo tão cedo, eu me vejo, acima de tudo, como um one-hit wonder, onde 2021 foi meu palco, e que nesse palco eu brilhei, mas analogias a parte, o que faz desse ano tão especial afinal? É aqui que peço licença para ser, mais uma vez, um tanto egocêntrico.
     Por muito tempo fui inseguro, não tinha qualquer confiança na minha aparência, personalidade, até mesmo intelectualidade, claro que isso tudo tem fruto dentro de problemas anteriores de muitos anos, e que, mesmo com o trabalho progressivo, me assombraram por muito tempo -e que, sinceramente, ainda me assombram de vez em quando-. Este fato me impediu de fazer muito do que eu sonhava, eu não digo que sempre quis "viver a vida de artista", mas querendo ou não, eu sempre estive abraçado mais do meu lado criativo do que meu lado lógico, mas a insegurança que fazia crer que eu não poderia ser assim sempre me puxava para fora desses sentimentos. Em 2013, quando comecei a escrever, tudo que eu escrevia e postava gritava amadorismo, escrevia mal, escrevia pouco, escrevia raso, mas essas primeiras escritas, por mais que eu sinta muita vergonha, são a primeira manifestação que tive de liberdade criativa, através de falar do que eu gostava, inspirado por outros que eu gostava de ler, e com os anos isso seguiu, minha capacidade escrita evoluiu, tanto que, ainda hoje, em 2021, escrever é um dos poucos momentos do qual consigo realmente acalmar a mente dos problemas diários, mas a parte de ser um escritor e apenas um escritor também me dava umas máscara, onde eu não precisaria lidar com minhas inseguranças físicas, inseguranças essas que, mesmo me cuidando, tratando o tivesse ao meu alcance, não parecia sarar, o medo do abandono por ser "feio" era aterrorizante demais para considerar uma expressão artística que não fosse a escrita.
    Agora voltamos nossos olhos de volta à 2021, eu, recém conhecido uma comunidade nova que ressoava com meus ideais, seja os ideais políticos, sejam os ideais artísticos, e eu, apenas com esse sentimento, me sentiria suficiente, mas em mim gritava que eu queria e podia fazer mais, então ainda em fevereiro desse ano eu comecei a planejar, aos poucos, como eu iria superar a barreira que me amedrontava tanto e iria finalmente me expressar de uma forma que eu ainda não conseguia. Eu ter me conhecido melhor no passado e tendo me aceitado como sou, um alien que não seguia um padrão de gênero que me era imposto, tornou mais fácil lidar com outras barreiras, me dava a segurança necessária pra arriscar esse próximo passo, o que eu teria a perder? Na minha mente, tudo, e por isso ainda passou março inteiro até eu, novamente, me preparar, e então um dia eu resolvi ao menos testar, ver o que poderia dar, porque se fosse dar errado, daria cedo.
    Pois então, subia eu ao palco, com o coração na boca e preparado, e então eu cliquei aquele botão, e então, começou a primeira transmissão ao vivo da minha vida, com uma tela de introdução ao som de Best One, e o desespero tomou conta de mim de novo, e então, com mais um botão, eu estava na tela, aparecendo, falando, existindo, e acima de tudo, me expressando. Não foi nem perto do desastre que eu pensei que seria, curiosos vinham conhecer o rosto do bobão presunçoso, amigos faziam presença e me apoiavam, mesmo que eu, por um segundo que seja, tenha duvidado que eles fossem gostar de qualquer criação minha.
    Mas pois então, jogar ao vivo conversando com pessoas seria arte? Ao meu ver, creio que não, claro que há nuances do que é ou deixa de ser arte, mas comigo, no meu coração, eu estou encontrando ainda, o que é a minha arte, o que eu gosto de fazer e como eu faço isso, construindo minha própria forma de expressão, seja escrevendo, desenhando, fazendo transmissão, falando feito bom tagarela que sou, creio que, 2021, foi o ano do meu debut, e do meu principal feito, porque independente da dificuldade que seja criar arte no mundo que vivemos, o pior inimigo de um artista ainda é ele próprio, e eu venci a primeira batalha contra mim, depois de tantos anos.


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