Eu [não] sou meus arrependimentos
Apesar do título, vim por meio deste humilde bloguinho falar não sobre mim, mas sim sobre
um mangá chamado Again!! (com duas exclamações), que vem, por pelo menos cinco
anos, rasgado muitos traços do caráter que nem eu mesma entendia. Mas como eu já
disse anteriormente, este texto não é sobre mim, então vamos falar de Again!!,
mais especificamente, de Kinichirou Imamura, nosso protagonista nesta estória.
Irritadiço e mal humorado, que sempre que colocado sob pressão põe a culpa em todos e desiste de tudo que estiver fazendo, e mesmo que vista essa máscara de que não liga para os outros, ele na verdade liga até demais, sua aparência primariamente fria é apenas para que não seja notado, ou melhor dizendo, evitado. Dessa forma, Imamura viveu seus três anos do ensino médio, sem grandes aspirações, sem planos de cursar faculdade. No fim das contas, do que se arrepender se nada foi feito? Como um jovem passando por aqueles que deveriam ser os melhores anos de sua vida, esse talvez seja o maior arrependimento de todos, o medo de dizer sim para aquela pessoa especial, o medo de se comprometer, e daí que surge essa personalidade irritadiça, que foge de todas situações da forma mais espalhafatosa como se toda negativa que recebesse fosse a cena final de um vilão de série juvenil, pois para muitos, Imamura, com seu cabelo tingido de loiro, sem sobrancelhas e olhar mal encarado, é de fato o vilão, mesmo sem nunca ter feito nada demais, tanto para os outros quanto para si. E é neste ritmo, de sentimento de três anos desperdiçados durante a cerimônia de formatura, que Imamura se recorda de uma pessoa, uma moça, membro única da Ouendan da escola, ouendan sendo um tipo de líderes de torcida, conhecidos por seu estilo militarizado, tanto em treino quanto em formação, utilizando de sinalizações físicas, tambores e gritos altos como um trovão, ironicamente, normalmente atrelados a delinquentes e também, sendo cada vez menos comum, substituído pelo tradicional americanizado das líderes de torcida tradicionais, com seus pompons e formações mais atléticas do que marciais. E é neste panorama que refletimos: como um método de torcida, normalmente exercido por um grupo de homens mal encarados, estava sendo exercido por uma aluna sozinha na cerimônia de abertura para os primeiranistas que incluía Imamura? Isso é uma dúvida para a estória lhe contar, nosso foco retorna ao Imamura, curioso do paradeiro desta única aluna, que após sua cerimônia de abertura não fora vista novamente. Nesta curiosidade, Imamura vai em busca da sala do clube de Ouendan, em um prédio já abandonado, esquecido pelo tempo, e lá encontra... uma colega de classe esperando seu namorado para um último namorico antes da formatura, e de confusão em confusão com uma menina popular e um suposto delinquente que os dois acabam por cair da escada e... morrer? Isso é outra dúvida que só a estória vai lhe tirar, mas o importante é que cá estamos nós, no passado, mais especificamente, na manhã antes da cerimônia de abertura dos primeiranistas que incluem nosso Imamura, com memórias do seu futuro mas com a altura de um garoto nos seus quase 15 anos. Em meio a dúvidas e devaneios sobre seu, denominado, Again, ele tem um único pensamento que acaba o empolgando um tanto: "Será que aquela veterana estará para fazer aquela apresentação novamente?". E a resposta não tardou, sim, ela estava lá, tão radiante quanto sempre esteve na memória do Imamura, sozinha como da última vez que lembrara. Após a apresentação, Imamura passa pela figura de suas memórias, onde ela o convida para entrar no clube de Ouendan, que atualmente tem apenas um membro, e ele responde da seguinte forma:
E esse é o pontapé inicial da nossa estória, mas chega de resumos! Vamos ao que não interessa, o que esse acontecimento significa para Imamura, o Imamura de 17 anos, não o Imamura de 15 anos e o seu again.
A partir daqui iremos discutir três tópicos importantes para o que faz Imamura, como pessoa e personagem, não evoluir, mas sim se entender, sendo eles: responsabilidade; necessidade; e admiração.
Você [não] é responsável.
Muitos atrelam responsabilidade com maturidade, como contrapartes intrínsecas que crescem juntas, quanto maior a responsabilidade, mais maduro fica, e em contrapartida, quanto mais maduro, mais sua responsabilidade aumenta. Mas é isso mesmo? Não sei. Não se engane, não estou fingindo confusão, a questão é: quando é que você sente que maturidade é um traço palpável dentro de si? Imamura, como nosso protagonista, considerava-se como uma pessoa madura, que já tinha entendido as regras não escritas na sociedade, e que já tinha assumido sua responsabilidade como mais um tijolo na parede. Mas se somos mesmo apenas tijolos atuando um papel, precisamos ser maduros ou precisamos viver nosso personagem, criado para nós ao nosso nascimento? Eu sei que o teor filosófico aqui está demasiado elevado, mas a verdade é que nós, como seres humanos, somos tijolos com rachaduras, onde até mesmo a matéria prima que nos dá origem não é uniforme, essa tal parede não é tão resistente apesar de ser grande, e é dessa forma que Imamura vai entender que sua maturidade não vai se construir da sua responsabilidade, mas sim da expectativa que as pessoas tem para ele.
Como citado anteriormente, nosso protagonista é irritadiço e que não sabe lidar com pressão, assume um caminho que não condiz com sua personalidade, afinal, ele assume uma nova responsabilidade que envolve, primariamente, ser a antítese de tudo que ele foi durante seus anos de ensino médio, ele terá que ter disciplina, ele terá que se fazer chamar a atenção, ele terá que, acima de tudo, ser notado, e não demora para vermos Imamura tentando desistir, tentando tomar todos atalhos do mundo para, ou se livrar, ou se concretizar, do concreto mesmo, tornar seu novo destino em uma nova parede. Afinal, a todo momento ele se lembra que, no fim das contas, esse talvez não seja o personagem que a sociedade quer que ele exerça, e o primeiro aprendizado dele vai ser, justamente, ele entender que esse personagem que ele tenta tanto se manter, na verdade é uma construção feita por ele mesmo. Sua maturidade vem aos poucos, não da expectativa que as pessoas tem por ele, mas sim da expectativa que ele tem sobre a expectativa que as pessoas tem dele, no fim das contas, a única expectativa que tinham por ele é que ele tivesse a responsabilidade de entender que não é sobre a expectativa, e sim sobre entender que, as vezes, o assunto é sim com ele, e que ele tem responsabilidade emocional sob suas ações, e que esse novo futuro não necessariamente depende dele, afinal, por que diabos eles resolveu fazer algo que, ele de todas as pessoas, nunca faria? Bom, talvez seja...
Você [não] é necessário.
Eu sei, dói. Mas antes que doa demais, ser necessário por si só não tem um significado, necessário em relação à algo, alguém. Necessário de forma prática ou de forma metafísica tal qual amar alguém? Nem eu, nem nosso protagonista sabemos responder, afinal, ele não quer se sentir necessário em relação a algo, ele quer se sentir necessário, ele quer que, quando pensam em alguém, pensem nele primeiro. É meio egoísta, não? Pois, imagine o seu colega, aquele chatão, pensando logo em você PRIMEIRO?! Sim, exatamente, tanto o seu colega chatonildo como aquela menina interessante que tem um clube esquisito, Imamura quer que as pessoas queiram ele, mas seu primeiro sentimento é sempre o oposto, de que as pessoas apenas suportam sua personalidade irritante e constantemente rebelde, quem gostaria de uma pessoa assim afinal. Bom, ele não se suporta, ele não acredita em si mesmo, ele pensa até mesmo que, se sumisse, ninguém daria falta! O que talvez fosse verdade no seu mundo original, mas no seu again, ele criou novas conexões, pessoas que sabem seu nome e sabem do que ele faz parte, mas novamente voltamos ao início do nosso questionamento, essas pessoas precisam dele? Talvez o chatão não precise, mas e seus colegas e novos amigos? Também não, afinal, é estranho ter que lembrar disso, mas dependência não é bom. Imamura aprende, através de muitas brigas, discussões espalhafatosas dignas de um chefe de RPG japonês e muitas, mas muitas, negativas quanto as suas investidas em tomar tudo para si, que ele não precisa ser necessário para ser querido, ele só precisa estar lá, tratar seus amigos como amigos, seus amores como amores, e principalmente, tratar da dissonância entre admiração, amor e realidade.
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