Wowaka, Miku e transformação

     Em meados de 2012 eu comecei a acompanhar este fandom maluco, e em 2012 eu ouvi esse tom de piano estranhamente singular, veloz rítmico, porém, a verdadeira transformação foi em mim, e sim na história de Vocaloid como existência em 2009.

    wowaka começou sua produção justamente em 2009, a cena de produções musicais utilizando o programa Vocaloid dava seus passos e apresentava seus primeiros nomes, mas foi com só a partir de The Gray Zone que um real movimento nasceu, tudo isso através de sua música, que era genialmente... Simples.

    Evitarei falar sobre a pessoa wowaka, e sim o musicista, mesmo que os sonhos dos dois personagens se encontrem no caminho. wowaka começou apenas apreciando a cena que vinha se formando, e decidiu que queria fazer as músicas que queria ouvir, e sem nenhuma formação musical ele correu atrás de desenvolver sozinho sua própria forma de compor, em pouco tempo ele desbancou grandes nomes do topo do ranking e criou um verdadeiro culto em torno de suas composições, isso dentro de uma carreira meteórica que durou apenas dois anos dentro da cena, que veio a influenciar a forma que se trabalha Vocaloid até os dias de hoje, sem necessariamente utilizar de arranjos complexos ou letras complicadas.

Sua música consiste muito de um elemento básico, velocidade, através de um ritmo constantemente veloz de batidas ele constrói sua narrativa, acompanhando com quaisquer sejam os instrumentos, criando uma sensação de euforia que, até os dias de hoje, poucos conseguem replicar, um elemento tão simples que ele soube dominar com maestria, não é ruidoso, momento esse onde entra outro fator que, pra mim, é importantíssimo no trabalho dele, a Hatsune Miku.

       Talvez uma das vozes virtuais mais icônicas da década, que esconde em si também uma incrível dificuldade. Com um tom extremamente agudo, saber trabalhar com ela é resultado de treino e um bom ouvido, wowaka tinha apenas o ouvido, ele utilizou muito um tom mais baixo, não tão gritante, dando assim uma amplitude aguda gigantesca para a Miku, como podemos ver em Two-Sided Lovers e Rolling Girl mesmo, fazendo a voz ser parte da euforia da melodia, dando uma emoção e sutileza que até então esta voz virtual não teria.

O conjunto do caótico orquestrado do wowaka com o agudo de ondas sutis da Miku formaram um culto em volta do próximo lançamento, todas músicas da dupla eram únicas no fandom, sempre despontando nos rankings do Nico Nico e deixando todos outros produtores boquiabertos, um trabalho que não existiria se não fosse o espírito do wowaka e a paixão dele pela ferramenta Vocaloid, trazendo sim, arranjos que, separados, não traziam novidade, mas juntos, harmonizados e super velozes, só wowaka fez no seu tempo, trazendo pra esse fandom não só vários dos headcannons conhecidíssimos, como também toda visão que produtores futuros explorariam, tornando essa cena tão rica e diversa quanto é nos dias de hoje.

    Não acabando apenas na sua influência nos desafios de produzir para uma voz virtual ainda evoluindo na mão de seus compositores, wowaka foi um dos que deu o passo para definir a longevidade das músicas Vocaloid. Ele junto de outros nomes da cena criaram a Balloom, uma gravadora independente focada principalmente em Vocaloid, fazendo assim a ponte das produções independentes do Nico Nico com o mercado de discos japonês, fazendo com que Vocaloid deixasse de ser só um hobbie para se tornar uma opção para seus criadores, dando a possibilidade de abastecer esse mercado de músicas, mercado esse que está a mil até os dias de hoje, ninguém mais consegue dar conta de saber quantas músicas e muito menos quantos discos foram lançados, mas que foram todos possibilitados graças a esse pequeno boom encabeçado por wowaka.

    O grande período de produções de wowaka não durou muito, apenas dois anos desde que ele lançou sua primeira música até o ponto que ele lançou seu álbum, Unhappy Refrain, facilmente um dos melhores álbuns até os dias de hoje do gênero Vocaloid. Após esse álbum sua aposentadoria da cena foi declarada, ele continuando sua jornada musical através de sua banda Hitorie, foi um curto período, mas o suficiente para deixar sua marca, pois o que ele fez com Vocaloid ele nunca voltou a fazer novamente, e infelizmente, nem veremos este retorno, wowaka faleceu em 2019 devido a um problema no coração, um susto para todo fandom que ainda sonhava com seu retorno, sua ida foi tão rápida e inesperada quanto a sua chegada, porém sua memória permanece, nos pequenos toques de grandes produtores e na mente de tantas pessoas que foram tocadas por sua música, e também pela existência de toda essa maluquice que chamamos de Vocaloid, que sem ele provavelmente nem teria se mantido a tanto tempo quanto se mantém.

    Já fazia algum tempo que eu queria escrever algo, me sinto mais enferrujado que o comum, e creio não estar tão satisfeito quanto gostaria, aproveitei meu amor por música e o aniversário da Hatsune Miku para me dar um impulso pessoal, talvez não seja um recomeço, mas com certeza é uma tentativa, dos meus vários projetos pessoas esse era o que eu mais queria retornar. É até engraçado eu voltar para falar justamente sobre este tema, lá no passado em 2013 umas dos primeiros temas que resolvi escrever foi sobre o fandom Vocaloid, cheio de erros e vergonha alheia que, graças a mim, vocês não terão o prazer de ver, hoje me sinto mais maduro para falar com mais propriedade, mas todos que me conhecem sabem, no fundo eu ainda sou um bobão que adora uma vergonha alheia, e eu não me arrependo disso de forma alguma, isso que faz parte de ser feliz dentro de mim, então é, esperem por mais vindo de mim, me cobrem mais caso estejam esperando, e assim como eu, escutem wowaka, sintam novamente o arrepio da transformação.

Como sempre eu não revisei nada, sinto muito pela inconveniência, mas se eu reler, provavelmente este texto deixaria de existir.

Vejo vocês de logo logo, levando nossa tristeza para a próxima noite.

@nippangu